A campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição pagou R$ 6,15
milhões a uma gráfica que não tem nenhum funcionário registrado e cujos
documentos apontam como presidente o motorista Vivaldo Dias da Silva,
que em 2013 recebia R$ 1.490.
A Rede Seg Gráfica e Editora, de São Paulo, aparece como a oitava
fornecedora que mais recebeu dinheiro da campanha presidencial petista
no ano passado, de acordo com os registros do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral).
Funcionários do TSE que examinaram as contas da campanha de Dilma
descobriram a situação da gráfica ao cruzar as informações da empresa
com o banco de dados do Ministério do Trabalho.
A descoberta fez surgir a suspeita de que a gráfica não tinha a
estrutura necessária para prestar os serviços pelos quais foi remunerada
pelo PT.
Algumas das notas da gráfica entregues pelo partido ao TSE trazem a
afirmação de que a empresa produziu folders para a campanha eleitoral.
As contas da presidente foram aprovadas em dezembro por unanimidade pela
Justiça Eleitoral, mas com ressalvas. Por isso, o tribunal continuou
analisando os casos que provocaram as ressalvas.
Não é a primeira vez que vem à tona que uma empresa contratada pela
campanha de Dilma Rousseff em 2014 tem como dono, nos documentos
oficiais, um motorista.
Como a
Folha revelou em dezembro de 2014, a Focal Comunicação, a
segunda que mais faturou na campanha presidencial de Dilma (R$ 24
milhões), também tinha um motorista (salário de cerca de R$ 2 mil até
2013) como sócio.
A Focal só ficou atrás da empresa do marqueteiro João Santana, destinatária de um montante de R$ 70 milhões.
O empresário Carlos Cortegoso admitiu na época que era o verdadeiro dono
da Focal, tendo justificado o registro em nome do motorista como fruto
de uma inclinação sua de dar chances para seus empregados progredirem.
A Justiça Eleitoral pediu à Polícia Federal apuração sobre a Focal e
outra gráfica, a VTBP, que ganhou R$ 23 milhões da campanha. O TSE agora
poderá enviar novo ofício à PF pedindo que investigue também a Rede
Seg.
IDAS E VINDAS
A
Folha visitou a sede da gráfica nesta quarta-feira (29).
Segundo Rogério Zanardo, que recebeu a reportagem no local, a Rede Seg
pertence a sua família e o motorista Vivaldo não é dono, mas funcionário
da empresa.
Ele não soube explicar por que a gráfica está registrada em nome do
motorista e afirmou que o maquinário estava desligado porque a gráfica
está sem serviço no momento.
"Ele é um bom motorista, não pega guia [de rua] e dirige faz tempo", afirmou.
O irmão de Rogério Zanardo, no entanto, deu versão diferente. De acordo
com Rodrigo Zanardo, que se apresentou como gerente da gráfica, Vivaldo é
mesmo dono da empresa, além de motorista.
Segundo ele, o maquinário é de propriedade do motorista, que pediu ajuda
a ele para administrar a empresa, uma vez que os irmãos são
proprietários de outra gráfica, a Graftec.
Segundo consulta feita pelo TSE, Vivaldo possuiu vínculo empregatício
entre 2006 e 2007 como eletricista com a Graftec e, de 2009 a 2013, como
motorista em uma empresa chamada Artetécnica Gravações, com salário
mensal de R$ 1.490.
Mais tarde, o próprio Vivaldo chegou ao local e afirmou ser "sócio" e
"motorista". "Eu gosto de trabalhar, e é um rendimento a mais que
tenho."
OUTRO LADO
Questionada sobre o gasto de R$ 6 milhões com a gráfica Rede Seg, a
Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência informou que a
campanha de Dilma Rousseff recebeu várias propostas de prestação de
serviços e selecionou as empresas que apresentaram preços mais baixos.
A Secom é comandada pelo ministro Edinho Silva que, à época, atuou como tesoureiro da campanha petista.
"A elaboração do material foi auditada pela campanha e a documentação
que comprova a elaboração e entrega do material foi auditada pelo TSE",
disse.
A secretaria não informou qual serviço foi prestado pela gráfica à campanha.
A Rede Seg, cujo registro mostra o motorista Vivaldo Silva como
presidente, informou, por meio de nota, não haver qualquer
irregularidade em suas atividades. "Sendo necessário, informações
complementares e documentos serão apresentados oportunamente às
autoridades competentes", afirmou.
Rodrigo Zanardo, que se apresentou como gerente da gráfica, disse que a
empresa contratou funcionários terceirizados durante a campanha e, por
isso, não tem nenhum registrado.
"[Quando] não tem serviço, como vou fazer folha de pagamento?", questionou.
Ele disse que viajou a Brasília para conversar com representante da
campanha de Dilma e que a empresa produziu panfletos e folhetos.
Reynaldo Borba, que figura como dono de outra empresa em que Vivaldo
trabalha como motorista, a Artetécnica, afirmou não poder dar
informações sobre o caso. Ele disse que as relações da Rede Seg e de
Vivaldo com a campanha de Dilma não dizem respeito à sua empresa.